De acordo com os registos
documentais existentes, a ilha do Fogo foi palco de uma intensa actividade
vulcânica desde o seu descobrimento e povoamento, algures no século XV. Até
meados do século XVIII admite-se que a actividade foi praticamente contínua e
desde então conhecem-se pelo menos sete episódios eruptivos, os últimos dos
quais ocorreram em 1951 e em 1995. Em termos globais as manifestações descritas
reportam-se a eventos de natureza basáltica, gerados no interior da caldeira
que domina o imponente vulcão central da ilha e marcados por fases explosivas e
efusivas de duração variável.
Com mais de 30000 habitantes, a
ilha do Fogo comporta um elevado risco vulcânico, pelo que se torna necessário
providenciar no sentido da minimização do impacto negativo de futuras
ocorrências. Inclui-se, neste domínio, o desenvolvimento de um programa científico
multidisciplinar de predição vulcânica, dirigido para o estudo do comportamento
do sistema vulcânico em questão. No campo da predição geral importa analisar as
particularidades dos estilos eruptivos mais comuns, sua magnitude e frequência,
por forma a identificar os principais tipos de hazard vulcânico e assim
contribuir para a planificação das medidas preventivas de Protecção Civil. No
que concerne à predição específica urge iniciar a monitorização sismovulcânica
integrada desta área do arquipélago, com o objectivo de se definir o seu estado
padrão e assim se identificarem eventuais sinais premonitores que permitam às
autoridades accionar atempadamente planos de emergência.
A monitorização sismovulcânica
deve contemplar a recolha simultânea de dados no âmbito da Geofísica, da
Geodesia e da Geoquímica. Neste último caso a intervenção baseia-se no facto
dos gases vulcânicos constituírem normalmente as primeiras fases a atingir a
superfície antes de uma erupção, pelo que variações composicionais e/ou da taxa
de fluxo podem resultar da modificação do sistema em profundidade e indiciar a
iminência de um evento.
Pelo menos algumas horas antes da
erupção que ocorreu em Abril de 1995 a actividade fumarólica no interior da
cratera do Pico era intensa e a temperatura do chão bastante elevada. O
desconhecimento da linha de base relativa a tais parâmetros e a inexistência de
quaisquer dados quantitativos não permitem, contudo, avaliar a situação no que
respeita à possível ocorrência de premonitores geoquímicos. A caracterização
físico-química das emanações gasosas permanentes e das águas subterrâneas, a
identificação de eventuais anomalias associadas à libertação de gases através
dos solos e a determinação da taxa de desgaseificação correspondem às acções
que, na vertente da monitorização geoquímica, se devem considerar prioritárias.