Movimento de vertente de grandes dimensões na ilha do Fogo ocorreu há 73 mil anos
Um estudo recentemente divulgado na revista Science Advances mostra que o flanco oriental do vulcão da ilha do Fogo, Cabo Verde, sofreu um colapso de grandes dimensões há cerca de 73 mil anos que desencadeou um tsunami com ondas de mais de 200 metros.
A ocorrência de tal fenómeno está provada pela existência, a grandes altitudes, de blocos de basalto nas ilhas de Santiago e de Maio, localizadas respetivamente a cerca de 55 e a 115 km a leste do Fogo, indicando que aquelas ilhas foram inundadas pela onda gigante. Os dados de campo documentam o impacto de ondas até pelo menos 170 metros acima do atual nível do mar.
Um dos aspetos que este estudo expõe é a problemática da ocorrência de movimentos de vertente em ilhas vulcânicas, fenómenos que ocorrem subitamente e de um modo catastrófico, e que são geradores de tsunamis de grandes dimensões.
A ilha do Fogo eleva-se atualmente a 2.829 metros acima do nível do mar, sendo que o vulcão atualmente ativo foi reconstruído dentro da cicatriz do movimento de vertente criada há 73 mil anos. A energia potencial para novo colapso de grandes dimensões continua a existir, pelo que é imprescindível manter a vigilância, relembram os autores do estudo. A atividade vulcânica mais recente ocorreu entre novembro de 2014 e fevereiro deste ano, tendo atingido os povoados de Portela, Bangaeira e Ilhéu de Losna que se localizavam no interior da caldeira.
A equipa de investigadores, liderada por Ricardo Ramalho, primeiro autor do estudo e investigador na Universidade de Bristol e na Universidade de Columbia, inclui cientistas portugueses, uma das quais a investigadora Ana Hipólito, do Centro de Vulcanologia e Avaliação de Riscos Geológicos.