Localizado em pleno Oceano Atlântico num contexto
geodinâmico marcado pela interação de três placas litosféricas, o arquipélago dos Açores está sujeito a múltiplos perigos naturais, incluindo sismos, erupções vulcânicas, explosões de vapor, emanações gasosas, movimentos de massa, cheias, inundações e tsunamis, entre outros. Neste domínio, os movimentos de massa constituem-se como um dos perigos mais frequentes, tendo causado inúmeras mortes e avultados danos desde o povoamento das ilhas. Indissociáveis das características geomorfológicas e vulcânicas das ilhas, os movimentos de massa têm sido potenciados por fenómenos de ordem meteorológica e/ou geológica que afetam recorrentemente o arquipélago, acarretando um elevado risco a que não são alheias as opções de ordenamento de território, de gestão de recursos hídricos e de proteção civil.Os movimentos de vertente de 31 de outubro de 1997 que afetaram a ilha de S. Miguel, em geral, e a freguesia da Ribeira Quente, no concelho da Povoação, em particular, são um claro testemunho deste complexo enquadramento natural e político. O conhecimento científico, os instrumentos territoriais, os planos de emergência e os sistemas de comunicações à data existentes muito dificilmente poderiam ter evitado a catástrofe que se registou, marcada por cerca de 30 mortes, habitações total ou parcialmente destruídas, estradas e caminhos cortados ou obstruídos, e infraestruturas básicas de abastecimento de água, energia e comunicações fortemente danificadas.
Este trágico acontecimento teve fortes repercussões ao nível das políticas públicas e das estruturas e mecanismos de alerta e de resposta a emergências, mas o certo é que tal não evitou novos desastres nos mais diversos pontos do arquipélago, incluindo no próprio concelho da Povoação. Volvidos 25 anos estaremos preparados para minimizar o impacto das ocorrências da mesma ordem de magnitude, se não mesmo maiores em virtude do problema global das alterações climáticas, que inevitavelmente vamos ter que enfrentar?