Os cientistas acreditam ter visto vulcões de gelo – chamados de criovulcões – em muitas luas, como Tritão, Europa, Titã e Plutão. Porém, no planeta anão Ceres existe um solitário e gigante vulcão de gelo, com metade do tamanho do Monte Evereste, chamado Ahuna Mons que chamou a atenção dos cientistas pela sua singularidade. Agora, um novo estudo realizado por uma equipa de investigadores da Universidade do Arizona, em Tucson, sugere que Ahuna Mons pode não ter sido sempre o vulcão de gelo solitário do sistema solar.
O grupo colocou duas hipóteses para o fenómeno Ahuna Mons. A primeira é que o vulcão é verdadeiramente um outlier. A segunda, e a escolhida pelos investigadores e aceite para publicação na revista Geophysical Research Letters, é que existiram outros criovulcões em Ceres, mas ocorreu algum processo que os destrui ou modificou a sua forma até ficar irreconhecível. Os investigadores colocam mesmo a hipótese de ainda existirem criovulcões em Ceres, mas será necessário procurar outras formas que não cónicas.
O planeta anão Ceres não tem atmosfera, pelo que os agentes naturais como o vento ou a chuva, não podem ser os responsáveis pelos processos erosivos sugeridos. Os investigadores elegem outro tipo de processo, designado por relaxamento viscoso. A ideia é de que, ao longo do tempo, até mesmo as rochas geladas fluíram como um fluido. Assim, preveem que, ao longo de centenas de milhões de anos, Ahuna Mons será tanto mais baixo em altura e mais amplo na sua base, ocorrendo assim, um achatamento sobre a superfície.
A equipa de cientistas criou um modelo para simular o fluxo viscoso no vulcão, testando diferentes níveis de água no gelo de cada vez, que lhes permitiu descobrir que Ahuna Mons teria que ser composto por pelo menos 40% de gelo de água, para ser afetado por relaxamento viscoso. Estimam, assim, que Ahuna Mons deve ter sofrido achatamento a uma taxa de 10 a 50 metros por milhão de anos.
Os autores ressalvam que o relaxamento viscoso afeta provavelmente outras partes da topografia de Ceres, podendo mesmo eliminar as crateras do planeta anão. A razão pela qual Ahuna Mons se encontra tão preservado deve-se ao facto de ter no máximo 200 milhões de anos, idade consideravelmente recente para um vulcão de gelo.
A equipa planeia agora investigar toda a superfície de Ceres para tentar identificar montanhas achatadas, e perceber mais sobre o criovulcanismo.